domingo, 15 de novembro de 2009

Doce inverno



Finalmente chove. Ainda bem, foi tudo o que mais desejei nestes últimos dias.
Sei que a maior parte das pessoas acha o inverno uma maçada, pois eu adoro. A chuva acalma-me sempre. Faz-me sorrir. É tão bom, leva o frio embora, lava as ruas, alimenta a terra, tudo fica verdinho e mais saudável,o nevoeiro dá-lhe magia,  sem contar com o cheirinho a terra húmida no dia a seguir, e por fim, o arco íris. Beber café ou chocolate quente e enrolar as mãos na caneca faz muito mais sentido no inverno do que em qualquer estação do ano. Como é possivel depois de tudo o que digo ainda ouvir pessoas dizer :" que merda de tempo". Ridiculas! Nem vou falar na ex libris trevoada...isso é romantismo a mais :)
Hoje é o segundo dia que quando ando de carro sozinha desligo o rádio. Não ando com paciência para ouvir músicas com letras que me ponham melancólica. Será assim amanhã de novo? Esta minha atitude acaba por contrariar muitas outras.
Ontem depois de oito horas de trabalho que me pareceram doze, em que pelo menos três delas estive irritada, resolvi como escrevi ontem sair. Lá fui eu com uma colega de trabalho (que adoro), em direcção aos meus impulsos. Estava irritada, juro que estava, mas não sei porquê quando a (te vi) mudei logo de disposição e isso ainda me chateia mais. Mas será possivel que eu nunca me consigo chatear a sério?? Sou uma mole, sempre fui!!Não posso ver ninguém que goste, por muito que esteja chateada, e não que me apeteca abrir os braços e dizer :"anda cá". Por vezes deveria faze-lo. Mas depois olho e atravessa-me sempre como um relâmpago esta frase "e se for a última vez?". Nem em sonhos vou fazer isso.Não quero perder nada da vida (mas posso continuar irritada se a pessoa não morrer nessa noite). Por entre a chuva, as três miúdas apertam-se num pequeno chapéu de libelinhas e entram no já habitué bairro de lisboa. Quando estou semi irritada faço questão de mandar algumas boquinhas para o ar (quando estou feliz também, mas neste caso ainda estava irritada). " é melhor mudares essa cara, e é se não queres um beijinho na boca ao pé da tua amiguinha". Deixo o queixo cair e abro muitos os olhos como sempre. O pior é que sei que é menina para isso.E isso faz-me corar que nem um tomate. Desisto por minutos. As nossas coisas têm piada. Será que alguém vê? Ao pé de toda a gente diz que tem segredos para me contar, e conta-me ao ouvido. Não são palavras são lábios quentes. E eu alinho. E quando regresso à base digo coisas como :"A sério? Não posso ela fez isso?" e continuamos. As mãos indiscretas, aquelas mãos indiscretas. Põem-me em estado de choque:) Não sou púdica, nada disso, mas isto faz-me corar. Sempre me fez corar. E insiste. Ok, não digo que não goste, mas faz-me ficar vermelha na mesma. Sem contar que penso: "oh meu Deus deve tar tudo a olhar". Fomos dançar. Mas confesso que depois de lá estar um hora o que mais queria era sair dali para fora para um sitio qualquer reconfortante. Preciso urgentemente de conforto.O que mais me apetecia ontem era receber abracinhos, braços quentes,mimos, muitos mimos. Por isso senti que devia estar mais no fim sempre com a cara do "menino da lágrima" daquele quadro velho que se vende como reliquia em qualquer feira.A implorar por um beijo quentinho. Depois num toque de lábios sinto como se me desse uma descarga eléctrica.Os lábios que toco são assim: doces, apaixonados, quentes. Os beijos são...perfeitos.E quando me beija só sinto, sinto, só sei sentir. Quando beijo sinto e memórias passam-me em zapping pela cabeça. Memórias nossas. Memórias de momentos de palavras que me fizeram chegar onde estou hoje. Depois param e continuo apenas a sentir.
Sinto frio mesmo quando está calor.Ja descobri que não é de noite que isso me acontece, é de manhã quando acordo. Tem-me acontecido estes dias, esta semana. Acontece-me e depois passa-me. E volta a repetir-se. Volta a abrir-se por minutos um buraco. Que merda um buraco. Um buraco que deixa entrar outras memórias. Não consigo evitá-lo. E ai juro que penso, juro que digo : "Não te afastes nem por um minuto de mim, nem um centimetro de mim. Por favor não me dês espaço. Asfixia-me de morte". Porque se me deixares sozinha eu quebro. Quebro porque acordo frágil. Quebro porque acordo e olho para o lado e vejo os momentos da minha vida expostos numa parede.E essa merda magoa. Mas não consigo arrancar aquilo dali. Lido como lidei sempre com tudo na vida, deixo estar porque faz parte de mim e do que eu sou. Talvez um dia ponha tudo numa caixa. Talvez não. Talvez permaneca ali.
Não estou infeliz, longe disso. Estou grande parte do tempo até com um sorriso na cara. Despertam em mim coisas que nunca, nunca em tempo algum se deram.O que por um lado é bom, por outro confesso que me assustam. Até tenho dado por mim desleixada com Deus. Acho que não sei bem o que lhe dizer. Talvez comece por um :"Pois..." e encolha os ombros como eu tão bem faço. Vou esperar que ele dê o primeiro passo que é sempre tão dificil para mim. Tou com medo deste natal. O que vou fazer?
Mas vou deixar andar. Todos os dias deixo andar, correr o tempo.
Este ano pareceu-me o ano mais curto de toda a minha vida, mas parece-me que vai ser o inverno mais longo que alguma vez tive. Ainda bem que calhou no inverno. Assim tenho a certeza que encontro o arco iris sempre. Percebes? Entendes porque gosto tanto do inverno??


Cheiras muitas vezes a terra húmida.

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